As crianças são as maiores vítimas das mudanças climáticas em todo o mundo. Com sistema imunológico e órgãos em desenvolvimento acelerado, elas respiram mais oxigênio e consomem mais alimentos e líquidos por unidade de peso, o que aumenta proporcionalmente a exposição a toxinas e poluentes atmosféricos. Também apresentam maior calor interno e pele mais fina, o que afeta a regulação térmica.
Um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), produzido em março de 2024, revela como os desastres climáticos estão minando a saúde dos mais jovens. Inundações, tempestades, secas, ventos extremos e alterações no ecossistema causam doenças, levam à desnutrição e colocam em risco a vida de bebês e crianças, especialmente aqueles que são socialmente desfavorecidos.
Regiões afetadas por catástrofes naturais enfrentam outro agravante: os deslocamentos em massa. Nos últimos seis anos, 43,1 milhões de crianças em 44 países foram retiradas de seus territórios por causa de desastres relacionados ao clima. Isso representa, em média, 20 mil crianças se deslocando todos os dias nesse período. Esse desafio climático resulta, entre outros problemas, no crescimento das taxas de doenças infecciosas. Os perigos são multiplicados pela exposição à contaminação do solo e da água.
Recorde de eventos climáticos no Brasil
O Brasil é o país das Américas com o maior número de deslocamentos internos causados por desastres, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU). O relatório da entidade, divulgado em maio último, aponta que mais de um terço dos deslocamentos por desastres nas Américas aconteceu no país, que também apresentou número recorde de eventos climáticos extremos em 2023, segundo a Organização Meteorológica Mundial.
Outro dado importante do relatório do Unicef refere-se às ondas de calor extremo, que ampliam as chances de natimortos e partos prematuros em 5% para cada aumento de 1°C na temperatura. No Brasil, mais de 30 milhões de crianças enfrentam pelo menos o dobro de dias extremamente quentes a cada ano, em comparação a seus avós.
O calor extremo causa estresse térmico no corpo. O resultado é maior vulnerabilidade. Soma-se a isso o fato de que o aquecimento global expandiu a gama de vetores de enfermidades transmitidas por insetos, como malária e dengue. Segundo o Unicef, mudanças ambientais levaram a um aumento de 10 vezes o número de casos de dengue em todo o mundo, com maior incidência e sintomas mais graves em crianças e adolescentes.
Poluição atmosférica compromete o desenvolvimento
Crescer em cidades com alta concentração de poluentes atmosféricos tem consequências que podem se estender até a vida adulta. Níveis elevados de partículas tóxicas ou longos períodos de exposição podem comprometer estruturalmente o cérebro das crianças. Pulmões também são afetados e infecções respiratórias, já comuns nessa fase, se tornam mais severas e frequentes.
A conta chega das mais variadas formas. O aumento das temperaturas e a diminuição da qualidade do ar são responsáveis por um maior número de ataques de asma e alergias, tornando mais frequentes as visitas a prontos-socorros, além de dificultar o desempenho escolar.
A poluição do ar está relacionada a 15% da mortalidade infantil, 26% da mortalidade neonatal e um terço dos nascimentos prematuros. Com relação à fumaça provocada por incêndios florestais, realidade presente em vários Estados brasileiros nos últimos meses, ela faz crescer em 2,3% o risco de mortalidade infantil.
Segundo o Unicef, 40 milhões de crianças estão expostas a mais de um risco climático ou ambiental no Brasil. Três em cada cinco convivem no país com concentrações de PM2.5 acima do recomendado. A sigla representa as partículas de poluentes atmosféricos ultrafinas, com um diâmetro de 2.5 micrômetros, que podem penetrar profundamente nos pulmões. Os dados deixam claro o recado: ações para controle e diminuição dos efeitos climáticos e esforços de adaptação são urgentes para a sobrevivência, saúde e bem-estar das futuras gerações.
Fonte:
https://www.unicef.org/brazil